Um dos sonetos de Vinícius de Morais que mais gosto. É um amor absoluto, intenso, total mesmo. Quisera eu ter essa experiência...
SONETO DO AMOR TOTAL
Amo-te tanto meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinícius de Moraes
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Alguns haikais de Paulo Leminski (1944-1989)
acabou a farra
formigas mascam
restos da cigarra
minha alma breve breve
o elemento mais leve
da tabela de mendeleiev
essa idéia
ninguém me tira
matéria é mentira
jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga
relógio parado
o ouvido ouve
o tic tac passado
milagre de inverno
agora é ouro
a água das laranjas
a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão
saber é pouco
como é que a água do mar
entra dentro do coco?
amar é um elo
entre o azul
e o amarelo
-- que tudo se foda,
disse ela,
e se fodeu toda
lá embaixo
vai ter
o que eu acho